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domingo, 13 de dezembro de 2009

O amor se constrói

Por Vanessa Balbo

Quando minha irmã deu a luz ao meu sobrinho e afilhado, ele era muito esperado e desejado por nós. Afinal era a primeira criança na família depois de décadas. Todos nos empenhamos em cuidar daquela gravidez com cuidados minuciosos e aguardávamos ansiosos, chegar a hora de receber aquela pessoa que iria entrar em nossas vidas e nos fazer mais felizes.

Tínhamos muitos planos e sonhos para ele. Nós já amávamos a presença dele em nossas expectativas dos momentos que viríamos a ter com ele: os primeiros passos, as brincadeiras, os domingos no parque, as dores de barriga, a primeira festa de aniversário, etc. Tudo isso já existia em nossas mentes e no nosso coração e já amávamos essa criança apenas pela oportunidade que ela nos trazia de ter sonhos tão simples quanto bons e a esperança de realizá-los.

Mas nem sabíamos ainda como ele seria fisicamente e espiritualmente. Não tínhamos visto seu rosto ainda. Eu sentia que o amor já existia antes mesmo dele nascer.

Mas quando ele nasceu e finalmente pudemos vê-lo, pegá-lo e sentir seu cheirinho. Eu me lembro bem de um instante em que nós o trouxemos para casa e eu fiquei olhando para aquela pessoinha e tentando conhecer cada pedacinho dele para me acostumar com sua imagem, pois ele era diferente do menino que eu havia criado em meus planos e sonhos.

Era como se eu quisesse encaixá-lo naquela figura do bebê que eu havia criado no período da gravidez. Eu queria fazer essa associação porque eu já amava a criança que estava criada na minha imaginação. Queria transferir aquele amor para o bebê de formas desconhecidas que estava na minha frente.

É claro que não consegui. Não se pode querer que alguém seja como um personagem que nós criamos internamente. E nós sempre criamos personagens para as pessoas e isso é natural, pois precisamos de referencias para reconhecermos suas qualidades e estabelecer um relacionamento com elas. Mas muitas vezes erramos em criar personagens com muitas qualidades que nem nós mesmos somos capazes de acumular. Por que somos somente humanos.

Então, no mesmo instante em que eu olhava o bebezinho dormindo e ocupando um novo espaço em nossa casa e em nossa vida, eu aprendi uma lição que agora consigo transcrever. O amor se constrói.

O amor que eu já tinha era bom e verdadeiro, mas eu amava uma ilusão, um sonho, uma esperança, um personagem que criei para compensar a falta de referencia, porque eu ainda não sabia como era aquele bebê.

Mas naquele momento ele estava ali de verdade. Com todas as suas ruguinhas de recém nascido, com aquela carinha inchadinha, aquele umbigo estranho pendurado na barriguinha e um chorinho estridente. Lá estava ele. E eu pensei com toda minha sinceridade: não conheço esse menino, ele não é aquele dos meus sonhos, mas eu tenho certeza que ele será uma das pessoas mais amadas da minha vida.

Percebe? Não havia nenhuma referencia. Eu não conhecia aquela pessoa. Mas eu tinha a pré-disposição de dar todo o amor da minha vida a ele. Eu sei. Parece estranho dizer que eu não o amei no primeiro momento em que ele nasceu, mas foi assim que aconteceu porque eu estava muito ocupada amando um bebê imaginário que obviamente não tinha aquela carinha de joelho e aquele chorinho de doer os ouvidos.

Então se seguiram dias em que fui conhecendo ele e as transformações do seu corpinho. Dias em que nos dedicamos todos os segundos cuidando das suas necessidades. Cada movimento dele era vigiado por nossos olhos. Cada sinal era um código que poderia nos dizer: quero colo, estou com fome, com soninho. E já nem lembrávamos mais de nós mesmos, pois ele era o que mais importava em todo o nosso universo.

Eu não sei dizer o momento exato em que aconteceu o amor. Sei que ele foi construído sobre a base da pré-disposição para amar e os cuidados que dispensamos àquela criança. Hoje sua ausência incomoda, a saudade dele dói, sua presença é necessária em nossos dias, e sua existência nos motiva a buscar as coisas boas da vida.

Agora eu já sei. O amor se constrói. Qualquer forma de amor se constrói.

Quando eu ouvia dos mais velhos, que se casavam primeiro e depois o amor vinha. Eu torcia o nariz e achava aquilo impossível. Cresci assistindo televisão e lendo livros onde os casais se encontram, se olham e acontece uma mágica instantânea que os faz sentir amor.

Eu sei que pode acontecer, mas vamos combinar? É difícil, né?

Nesse mundo louco em que cada dia nós nos distanciamos mais e mais dos nossos semelhantes, talvez nós já até esbarramos nesse suposto amor da nossa vida, e nem tivemos tempo de olhar em seus olhos para acontecer o feitiço do encantamento. Quem sabe nessa hora estávamos cabisbaixos pensando em algum personagem de alma gêmea que criamos em nosso imaginário por força dos nossos sonhos, desejos e esperança.

A maturidade me trouxe a capacidade de discernimento necessária para entender que o amor se constrói a partir da pré-disposição para amar e com o exercício diário de cuidar de si e do outro.

Parece simplista de a minha parte pensar assim, mas quanto disso a gente tem feito ultimamente?

Quanto de disposição para amar, nós dispensamos diariamente? Quanto de boa vontade nós oferecemos a alguém que se chega a nós sem que coloquemos uma lista de condições e pré-requisitos para ao menos nos abrirmos ao diálogo? Quanto de nossos cuidados, temos dedicado a nós e aos nossos amores, amigos e aspirantes a tal?

Será mesmo tão simples e fácil? Eu acho que não.

Mas quero sempre fazer exatamente como quando olhei para o bebê desconhecido e tive a certeza que ia amá-lo. Sempre que encontrar alguém em minha vida, mesmo que me pareça muito diferente daquela que minha imaginação criou, quero manter internamente a certeza que vou amá-la com pré-disposição e boa vontade para cuidar e ser cuidada. Sem medos e sem defesas.

Sei que sou capaz de construir o amor. Sei que você também é. Porque o amor se constrói!

3 comentários:

Marmolzinha disse...

Tenho plena certeza de que o amor pode ser construído. Está sendo nesse momento e é ótimo!
Beijão

Elizandro Castanheira disse...

Q Bom!!! exemplo muito bonito, vanessa continue a postar textos deste tipo.

Anônimo disse...

Conheci seu blog pesquisando conteúdo de C# na internet. Que grata surpresa, que maravilhosas palavras... Me desprendi um momento do meu problema inicial, esqueci os códigos, esqueci a lógica de programação e só pensei no amor. No amor que se constrói...