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sábado, 8 de agosto de 2009

Lei contra os ônibus fretados


Eu não sou ativista e nem tenho perfil de militante política, mas confesso a vocês que esses dias circulei abaixo assinados, promovi discussões, instiguei a opinião das pessoas e até fiz manifestação em praça pública de posse de apito, buzina e faixas de protesto.


Não vou falar sobre tudo que já está sendo dito na imprensa e na Internet. Já discuti esse assunto à exaustão. Agora deixo a teoria para os que nos enxergam como índices nas estatísticas nem sempre confiáveis.

Vou contar a vocês o que acontece aqui na vida real. Aqui no dia a dia de quem mora longe e trabalha na cidade de São Paulo. Aqui onde pessoas são pessoas mesmo. Com vida, sentimentos e cansaço.

Na primeira segunda-feira de restrição aos fretados (27/07/09), ao chegar na estação de metrô Santos-Imigrantes eu olhei pela janela do ônibus e vi uma fila imensa de ônibus fretados esperando para desembarcar ( desovar ) seus passageiros nos poucos metros de chão delimitados pela prefeitura.

Depois vi um “sem número” de trabalhadores descerem dos seus ônibus e se dirigirem todos ao mesmo tempo para a bilheteria. Fiquei imaginando a disputa que teriam que travar para conseguir seu espaço no metrô, pois os índices e estatísticas apontam que atualmente são 9 pessoas por metro quadrado, mas isso foi antes da restrição entrar em vigor. Como será agora?

Vi todas as pessoas perdidas e sem saber para onde ir, para onde olhar e o que fazer. As pessoas a quem me refiro, são os motoristas de ônibus, de táxi, os passageiros, os funcionários da CET, os bilheteiros e funcionários do metrô, os passageiros do metrô ... todo mundo sem rumo e desnorteados.

Vi taxista pegando passageiro no metrô e não conseguir sair por causa do acúmulo de ônibus e gente.

Vi morador tentando sair da sua garagem e ser impedido pela fila de fretados que se formou nas ruas que lhe foram permitidas.

Eu vi gente chorando por perder o fretado no meio da bagunça e ter que descobrir como fazer para voltar para casa. Eu também chorei.

Vi mães e pais presos num transito interminável contando que seus filhos estavam a sua espera.

Vi mulheres e homens pacíficos se revoltarem contra o poder público.

Eu vi as pessoas que trabalham de verdade para sustentar o sistema público se aglomerarem nos “bolsões” das estações que na verdade são alguns metros quadrados completamente desproporcionais à quantidade de passageiros que os fretados transportam.

Dias difíceis !!!

Agora vou lhes contar a sensação que a gente sente estando lá. Porque olhando da televisão, jornais e internet não dá pra vocês alcançarem o grau de dificuldade desses dias.

A gente sente que somos animais irracionais que devem ser adestrados para se limitar apenas aos espaços que lhe são permitidos. Peço que meus companheiros nessa batalha me desculpem pela comparação que se segue, mas é necessário para validar a descrição do sentimento. A gente se sente como bois que vão sendo tocados para seus pastos. E quando houve manifestações é como se a boiada tivesse estourado.

A gente começa a questionar se valeu a pena estudar tanto. Se não seria melhor não ter se esforçado tanto e estar perto de casa ganhando pouco, mas tendo tempo para estar com a família ao invés de ficar horas tentando arrumar uma forma menos sacrificante de voltar do trabalho pra casa.

A gente percebe que os munícipes de cidades além São Paulo são considerados intrusos e invasores. Fomos julgados como folgados e comodistas e acusados de não nos importarmos com o bem estar geral. E nós somos apenas trabalhadores. Gente boa e do bem. Só queríamos chegar ao trabalho e voltar para casa.

Quando foi que viramos um problema social?!!! Como isso aconteceu?!!! Nós nem percebemos, pois estávamos trabalhando.


E nós que gostaríamos de discutir democraticamente as medidas da prefeitura, pois foi assim que aprendemos na escola e na faculdade. Nós acreditávamos que nossa opinião seria levada em consideração, a final o período sombrio da ditadura já passou. Passou?

Ainda hoje, depois de ter visto tudo isso e muito mais nesses dias difíceis, não consigo acreditar que essa lei é real. Minha humilde inteligência não me deixa entender tamanha “burrice”. Minha consciência de cidadã não me deixa acreditar nesse despropósito social.

Nossos direitos e deveres se perderam na confusão desses dias ... porque já não temos direito de ir e vir ... e por isso quase não conseguimos cumprir nossos deveres ... nós só queremos trabalhar.

Sim, são dias difíceis !!!

Mas antigamente as dificuldades eram causadas por mal feitores e éramos maltratados por ladrões, assaltantes e marginais. Agora temos que nos defender da ação dos nossos governantes. Dos nossos representantes políticos.

Já não se sabe mais quem é mocinho e quem é bandido! Salve-se quem puder!!!

E nós só queremos trabalhar.

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